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Friday, March 03, 2006




Perdido

Eu sou sempre um espião, com uma mão livre acenando as pessoas e outra empunhando minha arma fictícia. Uso esse escudo para tentar me proteger do que me machuca aos poucos.
Mesmo que feche meus olhos, tente parar meus ouvidos, minha alma será sempre escancarada. E enquanto vivo não podemos fugir. Mas gostaria de nunca olhar para a estrada da perdição, vendo os rostos febris de quem acha que a ausência de ar é o infinito liberdade.Acredito estupidamente que minha arma empunhada, feita de vento, é o que me dá força de prosseguir. Como se ela fosse o que me deixa vivo, minha coragem presente. E assim tudo que faça seja mais forte do que outros, mais fiel ao próprio modelo.
Mas então, ao mesmo tempo, me choco com outra atmosfera. O real. Fazendo meu coração torcer suas artérias para o lado, desejando que certos desejos nunca existissem, para deixar tudo melhor como está. Mas nem a arma que carrego foi capaz de conter meus sentidos. E agora mesmo que me mate com ela, a verdade já foi há muito tempo exposta.
Já está podre no sol de tão crua. E agora que os urubus vêm comer o resto que sobra, me pergunto se é só uma metáfora ali presente, ou se na verdade eu estou ali.Tenho vivido da melhor maneira que posso, mas minha garganta ainda fecha alergicamente quando volta a pensar nela. Minha tortura pessoal em forma humana.Assim, no clássico verbo entre a cruz e a espada, me encontro na sombra dessa cruz. Tentando me esconder debaixo dela. Sem saber que nada será capaz de matar a nossa força. Mas meus sentidos pessoais em forma desejo, merecerem crucificação.
Atirei em mim com essa arma hoje de manhã, achando que depois tudo seria diferente. Mas por enquanto, você ainda é rainha do meu penar. Mesmo que a sós e distante de todas as outras estações.
(03-03-06)

1 comment:

Elana Bellini said...

... esse jogo de carrascos...